quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Processo de Ocupação- Criativa


CENA TROPIFÁGICA



ONDE: EDITORA MULTIFOCO- AV.MEM DE SÁ, 126

QUANDO: 27 DE NOVEMBRO- 23 Hrs ( Após show de Céu e Otto nos Arcos da Lapa)

QUANTO: 10 R$.




Plataforma virtual:

http://www.facebook.com/profile.php?id=1385514434&v=photos#!/event.php?eid=124323777626807

www.cenatropifagica.wordpress.com




O QUE: OCUPAÇÃO ARTÍSTICA – HÍBRIDA- Intervenção de Rua, Roda de Música, Show Conexão Rio-Bahia, Performance, Vídeo, Festa, Cachaça, Improviso Livre , Tribuna Aberta, Rede social.




Entre a Antropofagia, a Contra Cultura e a Tropicália,resta o caminho da síntese,convergindo idéias entre cultura, estética e política, realizando assim, processos de aproximações, confraternizações e singularidades.




A Tropifagia, come o país tropical, Brasil, e propõe mediante a rede artística, a universalização da cultura e da arte,enquanto prática antropológica e sensível,na diversidade total da mistura e miscigenação instrumental de todo e qualquer elemento e conjectura estética, poética e política. Da tradição para o hibridismo formal e de conteúdo,visando assimilar o marginal, o subversivo, e a composição das vanguardas artísticas em termos de história e comportamento dentro da cultura brasileira. Espaço de ocupação e experimento. Demolição de qualquer limite espacial e filosófico. Política de multidão. A Cultura como espaço livre de circulação e influência.
Multiculturalismo. Encontrados juntos, o nacionalismo e o internacionalismo. Brasilidade no peito, mente no mundo. A internet aboliu a distância. “You may say a dreammer. “But I'm not the only one”. Se a antropofagia desejou a fusão, a junção de sementes ,a regionalização de componentes não próprios, a Tropicália materializou-a por fim na guitarra
elétrica, e a contemporaneidade, mais do que em suas inovações de linguagem,
reflete a continuidade dessa linha de pensamento e atitude. Somos filhos desse tempo histórico recente. Temos essa herança…
A ferramenta democrática é a liberdade e a criação não deve ser cerceada e nem ideologizada.




Trocando em miúdos, tudo é Brasil, Brasil é o mundo. ÊA JAH




ARTISTAS:




Thiago Pondé – Baiano,Cantor- Intérprete, Produtor, Ator e Estudante de Filosofia. Teve a ideia e reuniu a galera. Fará parte do Show Conexão Rio Bahia. Conta com a colaboração e ida de todos, para o bem do saldo que esse primeiro processo dará.




Silas Giron – Baiano, Compositor, Cantor. Músico do Show Conexão Rio Bahia e é o Rasta loiro da galera. Conexão Copacabana- Praia do Buracão.




Cássia Olival- Carioca, Produtora, Articuladora, e responsável pelas parcerias e apoios da ocupação- processo. Produtora, pensa que é louca de ter escolhido essa profissão.




Rafael Pondé- Baiano, Músico, Produtor Musical, residente na Cidade Maravilhosa e ultimamente em curso com produções internacionais. Músico do Show Conexão Rio-Bahia. Dono da guitarra tropifágica.




Gabriel Pardal – Baiano, Ator e Homem Multimídia. Pratica atividades em que a criatividade seja participativa: salto com Cortázar, nado Melville, revezamento Doistoévski-Lispector, virada beatnik, e por aí vai. Residente no Rio de Janeiro também. Performance: Sorria você está sendo Filmado. Criador da arte do cartaz .




Hélio Rodrigues – Carioca, Cineasta, diretor do Filme Via de Poesia que será exibido. Diz ele que a Manguetofagia é uma revolução única na estética e no hibridismo poético. Percebe-se seu estado de reivindicador quando se pronuncia no coletivo. Conexão Novíssimo Baiano Carioca.




Francisco Thiago- Cearense. Ator e Dançarino. Adora Elis, Gal, Roberto, Gil, Caetano, Clarice, Neruda, Beatles, Bob Marley, axé, Machado de Assis, Lobato, Baby, Rita Lee, Caio, sorvete de cajá, clube da esquina, Minas, caipirinha, cerveja gelada, Gonzagão, Chico e qualquer coisa mais que me desequilibra. PERFORMANCE: Grito mudo ou Pequena explosão de passarinho




Laryssa França – Carioca,Dançarina, menina, Frida. Estudante de Filosofia e Dança Contemporânea, vem buscando mesclar as atividades teatrais a todos os âmbitos de arte: a poesia e a música, artes plásticas e artes cênicas. Com tão pouca idade Laryssa passa por cada segmento sem deixar a desejar. “Viva la Bruja”! Vem Frida Kahlo.




Felipe Salgado- Carioca,23 anos, jornalista, poeta e ator. Pensador de tudo e doutor em nada. Manguetofágico e Performático. Recitará e virá.




Maurício Chiari- Paulista e Pernambucano, músico, produtor musical, e proprietário do Amarelo Estúdio. Salve o receptor de encontros marcantes no Primeiro Andar do Amarelo, espaço de convivência artística. Baterista no Conexão Rio-Bahia.




Cynthia Reis- Carioca e entulhará com um vídeo. O amor e todas as suas lembranças. História de Vida. Bem vinda, Cynthia.



Fábio Cerqueira- Carioca, nascido em Laranjeiras no estado do Rio de Janeiro em 05/11/1978, cresceu entre Tijuca e Grajaú, bairros do zona Norte carioca, residente na cidade do Rio de Janeiro, artista plástico auto-didata,ilustrador e Designer. Atualmente divulga seu trabalho através do graffiti, onde convive com diferentes realidades

Patrick- Gaúcho. Baixista na baianidade- fluminense e carioca. Dizem que tem o groove.



Godô- Mineiro, Palhaço de Rua, macaqueiro e pregoeiro. Vem com sua Bufonaria e adjacências




2 atores da Cia Mystérios e Novidades- Cariocas. Conceição e seu par. Perna de Pau presente na Intervenção de Rua. Momento sublime e pleno da noite. Ao raiar de Otto e Céu.




Divulguem e participem.







Evoé!
Saravá!







Cena Tropifágica,

25 de novembro de 2010.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Artes Cênicas


Sétima Bienal da UNE-


Na VII edição da Bienal, começa a se desenhar o espaço de Artes Cênicas e todo seu formato e programação. Única área da Bienal que aglutina três linguagens, esta, coordenada por mim, Thiago Pondé, se insere de maneira definitiva, não só na adequação ao tema geral, como também com certo equilíbrio entre as próprias linguagens que a compõe.

Sendo composta por oficinas, mostras e debate, a programação contempla tantos profissionais envolvidos em pesquisa, quanto os Pontos de Cultura com trabalho significativo na área.
De antemão, já se prevê uma oficina de acrobacia e outra de dança popular. Todas abertas a um público interessado em ter um contato inicial com o Circo e a Dança.

No debate, uma conversa sobre a interseção e fronteira é prevista. O modo poético de produção e as ferramentas técnicas disponíveis, além de certo caráter híbrido das produções atuais.

Por fim, na Mostra Selecionada por convite, a presença da Cia de Mystérios e Novidades, com o espetáculo a “Chegança do Almirante Negro na Pequena África”, relatando a Revolta da Chibata e a história da Zona Portuária, espaço contemplado e importante também para a história do Samba, tema da Bienal.

Outro espetáculo, em processo de negociação, é em homenagem ao compositor Candeia, ilustre carioca do morro, e representante do samba de raiz.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Fanfarra das Artes

Um dos realizadores do Cena Tropifágica:


CULTURA.EDUCAÇÃO

Considerações sobre Cultura e Educação:

Tópicos, idéias, reflexões:



- Em uma perspectiva mais ampla, a educação não formal, vivenciada em espaços que não tem como protagonismo a sala de aula ou que ainda resignifiquem a sala de aula como espaço de ensino, tem uma conexão vital e embrionária com a Cultura e com toda a contingência antropológica. É inegável que as experiências dos Pontos de Cultura envolvem uma iniciativa integrada e transversal. Esta visão está conectada com uma idéia maior, levada e considerada durante a última gestão do MINC, que é a Diversidade.

Este "conceito" bastante utilizado em grande parte dos discursos de articuladores, políticos, agentes de cultura, artistas, incluem uma síntese formal com a proposta pedagógica e com as ferramentas formuladoras das políticas públicas de Educação. Desdobrando metodologicamente e tecnicamente, contemplada pela fala de Gilberto Gil durante uma conversa com o CUCA, o modo de aprendizado, a vivência relativizada de contéudo, ou a idéia de ludicidade tão contemplada nos estudos contemporâneos sobre Educação, a traz ainda mais próximo para o universo da Cultura.

Exemplo: O adequamento da proposta pedagógica do "meio" rural, a partir de conteúdos e vivências locais. Melhor dizendo, porque a escola rural não possui uma disciplina Agricultura ou Pecuária ou Permacultura? Porque a Cultura local não é a idéia chave no pensamento de construção do contéudo e formato das políticas públicas de Educação? -

Obviamente que o desafio relatado por essa aparente segmentação, envolve cada comunidade requerida, sua forma de construção pedagógica, seu método de "ensino" e-ou vivência. Esta questão é crucial, principalmente pela consciência surgida em termos de grandeza, proporção e identidade cultural brasileira.

Ademais, sendo a contemporaneidade mote para idéias interdisciplinares, transversais e integradas, é importante a revisão de cada linha ou área crucial e suas sucessivas ligações associativas.
A Cultura e Educação não devem ser fragmentadas em sua concepção vital, pois além de serem um eixo de potencialização e desenvolvimento estratégico, estão desde o berço da pré-história da humanidade conectadas em sua experiência primeira e anteriores a proposta modernista de especialização e de educação como espaço escolar e sala de aula apenas, estando seu viés antropológico e comunitário como principal forma de formulação....

CENA TROPIFÁGICA

Espaço de Experimentação Artística


terça-feira, 19 de outubro de 2010

!

Sarau Tropifágico : Conexão Rio - Bahia - Shows e outras artes - Em busca de um hibridismo de linguagem.







Prólogo:




O projeto nasce por um ideário comum envolvendo a Antropofagia, a Tropicália e a Contra-Cultura, abarcando a relação entre estética, política e cultura, na dimensão da vida e da contingência histórica.

Uma certa afeição por esse universo aproxima pessoas para reunir, congregar, propor, estar, ser, experimentar.

Estas afinidades imbricadas, perpassadas em uma juventude plural e atual, começaram a construir uma teia comum de pensamentos e atitudes em artistas, produtores, jovens, estudantes, e pessoas de modo geral. O Sarau é uma possibilidade de mistura de sementes, de autonomias, de singularidades. Para ver o resultado.

O desbunde, a transgressão comportamental, a afetividade, a subjetividade, e toda uma gama envolvendo também psicodelia, expansão de consciência a partir do uso de enteogenos, e direitos civis de todos, estão no grande campo que conecta o debate cultural, estético e político e assim as contingências históricas brotadas desta vasta seara no tempo. Por esse viés se dá a concepção quista .

A partir do Manifesto da Juventude Tropicalista, começou a nascer projetos que visam provocar pequenas sementes de prazeres e quereres, em que há encontros conectados numa alteridade plena e identitária. Os afetos, o diálogo das subjetividades, o respeito as interpretações em sua autenticidade e autonomia, e a realização do gozo. Gozo como espasmo social. Espasmo que nasce da responsabilidade para com a vida e para com o outro. Agora de sujeito para sujeito. Sem objetos observadores.

Democracia? Ou assim ou de jeito nenhum.

A revolução, talvez se dê, pela maneira de acontecer, e esta, acreditamos, é de singularidades, de cada ser, humano, do cidadão, de sua existência, de sua história de vida,e daí de uma “real” tomada de consciência( racional, emocional, etc...),fortalecida pelo coletivo, pela nação, pelo mundo, pelo povo, através da impetração dos movimentos sociais, das políticas progressistas, e das pessoas de maneira indistinta. Para singularidades, não há padrões. Quiçá normas.

Alguém ainda “prega” que razão é só mente ou que emoção é só corpo? Para esse paradigma, novas resignificações da política, da religião, da filosofia,da ciência e da própria vida.


Instantes, momentos, aquis e agoras saudados pela estética e poética comprometidas e libertárias. De micro e Macro políticas. Sempre em horizonte. Nunca impostas ou verticais. Afinal, ou se está em consonância com os direitos civis, e com a cultura plural, ou é necessária uma revisão vital.

Faz-se a seguinte conclusão: Cultura nada mais é que saúde mental e educação afetiva. Daí a transversalidade. Um pouco de arte e de antropologia fazem bem a qualquer indíviduo-cidadão




Este projeto é a realização de um Sarau híbrido, com realização de um show, uma performance, exibição de curtas, recitação de poemas, Momento de Improviso Livre e DJ no Espaço Multifoco, localizado na Av. Mem de Sá. Um espaço ocupado por artistas, produtores, estudantes, jovens, e por pessoas de modo geral.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Impressões- Um pouco de história e memória - Conversa com Gilberto Gil acerca de sua trajetória artística e política.

Em plena segunda feira, início da tarde, nos preparávamos, um grupo de oito pessoas do CUCA da UNE ( Circuito Universitário de Cultura e Arte), para encontrar Gilberto Gil e conversar acerca da sétima edição da Bienal de Cultura da UNE e de tópicos que considerávamos importantes para o contexto cultural e político. Sabíamos, no fundo, que a amplitude de nosso assunto e aprendizado, transpassaria fatores múltiplos e desencadeados pela nossa vivência enquanto coletivo, entidade, etc, e que seriamos contemplados com uma experiência diferenciada e única, para todas as nossas vidas e para nossa atuação no universo cultural ...

*Ser um dos únicos baianos do grupo talvez me imbuísse de um sentimento diferente em relação a este momento, mas acredito que todos estávamos tão emocionados e ansiosos com relação ao bate papo, que confluímos numa energia única e total, pensando no sentido de Brasil e de País com uma miscigenação como poucos no continente mundial e global. Me sentia baiano e brasileiro. Humano e Artista.
Admirado e orgulhado do ser humano que encontraríamos e com o ouvido e corpo atentos e receptivos.

Ao som de Andar com Fé caminhávamos para lá e situada a demarcação ideológica e idiossincrática singular de cada um e do coletivo como um todo, partes de um mesmo, percebíamos interesses distintos e uma já antagônica e histórica diferença em termos de pensamentos enlaçados pela estética e a política.

Ao nos depararmos com um Gilberto Gil extremamente lúcido e fervoroso, com seu discurso sobre diversidade e admissão da diferença, fez-se clara, para mim ao menos, a idéia de coletivo , entidade ou instituição heterogênea, organizada pelos modos de pensar autonomia e comunicação na atualidade, possibilitando um intercâmbio de idéias que se dá no campo de singularidades e coletivos pensantes, em franco processo dialógico e dialético, e na contribuição particular de cada ente contributivo.
Algo que aos poucos define-se e situa-se na atuação dos agentes da cultura e nos contextos dos movimentos sociais e culturais atuais e contemporâneos, e que o distinguem da política e filosofia clássica, aproximando-os de uma antropologia e poética redimensionada e simbólica, por vezes subjetiva e própria.
“Hoje não é mais o pequeno recanto que reivindica sua sucessão ao universal, é o universal que chama o local para que ele venha.”

Gil, integrante do CPC baiano na época de sua juventude, talvez por experiência empírica, seja um ferrenho defensor de uma nova cultura política, abarcada por sua horizontalidade e transversalidade entre os conteúdos e linguagens dispostas no conhecimento, e nas organizações pragmáticas desse conhecimento circulado em sociedade. O Movimento Tropicalista, do qual Gil fez parte, contém um forte conteúdo de cunho comportamental, afetivo, sexual e estético, sendo sua história de ativismo, sempre voltada para compreensões micro e macro, de uma escala plana e circular, de movimentos revolucionários que se iniciam no interior de indivíduos e coletivos e partem para uma universalidade transformadora e tátil, linear e política.
Como diz Heloísa Buarque de Holanda: “ uma noção fundamental aparece no seio do movimento cultural de 60: a de que não existe possibilidade de uma revolução ou transformação social sem que haja uma revolução e transformação individual”.


Ao falar sobre como o tema diversidade se institucionalizou devido a pautas colocadas na ONU ( Organização das Nações Unidas), Gil se mostrou abarcador e sintético e reconheceu que em termos de Cultura, não se tem mais como criar fronteiras ou limites entre o fazer erudito ou popular, e que historicamente este entrelaçamento se deu em diversas instâncias. Algo que me suscitou a lembrança da Antropofagia e das apropriações regionalizadas de elementos não nacionais, a exemplo da guitarra elétrica e do nascimento e desenvolvimento do samba, enquanto poética musical imbuída de ser o ritmo genuinamente brasileiro e de caráter plural, logo diverso e multi étnico. Com a frase: “ A diversidade dá o tom da contemporaneidade”, Gil resumiu bem nossa era.

Ainda aferiu uma expressão metafórica e possivelmente polêmica em outros tempos, pontuando o nascimento de uma elite popular de contexto econômico
diferenciado, e de franco processo reorganizador enquanto pirâmide social, sendo a ferramenta internet, vital para este exercício democrático de construção coletiva ,de re-significação da realidade, de fruição da informação, de tomada de consciência, e de múltiplos primas e perspectivas.( Cultura Digital) . Para Gil, o celular é a guitarra elétrica da era de agora. Cabe nos perguntar: Quem não possui um celular nos dias de hoje?


Sempre aglutinador, e com a frase dita no filme Uma Noite em 67:“ Misturar as sementes para ver no que dá. Rolling Stones com Jorge Bem, Beatles com Banda de Pífanos de Caruaru“, Gilberto Gil foi revelando como permeou sua obra musical dessa epifania de elementos e como a criação artística, algo de seu mais genuíno, foi o instrumento de reivindicação e celebração dessa extensa e rica cultura global, de seu estado de espírito zen e disponível, criativo e inspirado,de sua influência da contra-cultura e da geração hippie. Em certo ponto, filosofou: “ O artista deve criar a partir de uma folha em branco. Conectado com o instante da criação”. Ou seja, com o que vier e se apresentar a ele, com a autenticidade do aqui e agora manifestado, trazido, revelado.

Toda sua atuação no Ministério da Cultura e a implementação do programa Cultura Viva aconteceram de maneira a indagar o que é Cultura, encarando-a como processo, e cedendo lugar a reflexão do papel do Ministério da Cultura enquanto fomentador e responsável pela reformulação da política cultural do País.
Como um mantra, que Gil repetiu quatro vezes durante nosso papo: “Só sei que nada sei, Só sei que nada sei, Só sei que nada sei, Só sei que nada sei”, ficou evidenciado que sua liderança foi exercida de maneira a disseminar esta postura aberta e crítica, preparada para atender os anseios reais de questões seculares e contingenciais.

No fim, Gil falou sobre a importância da conexão entre Cultura e Educação, e de como a lógica antropológica da Cultura determina um modo tal de aprendizado, que este deve ser revelado pela própria comunidade ou sujeito, concluindo que a sala de aula não é a única experiência possível enquanto processo pedagógico e de ensino.

O mais bonito se deu no fim. Percebi como cada um que saia do papo respirava fundo, de maneira a assimilar e ser afetado por toda aquela vivência.

* E eu abracei Gil, pois precisava a partir de um ato manifestar tudo que senti durante aquela tarde.

domingo, 29 de agosto de 2010

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Trabalho Fim de Semestre.

Postura Pragmatista- Estética e Ética-
ARTE e Política Democrática - Por uma sociedade de multidão.


Vital começar este trabalho, considerando que há cerca de seis bilhões de pessoas no mundo, e que estas, reconhecem, em sua grande maioria, invariavelmente, que uma das únicas coisas que as aproximam, são o fato de serem humanas, logo, da mesma espécie. Elas, todas, dentre sua grande maioria, por vezes não notam, que o fato de sermos da mesma espécie,humanos, nos faz partilhar o mesmo, a vida.

Ademais, a diversidade entre a humanidade já é consenso e também pauta política.De antemão, nessa multidão, alguns já estão “abraçados”.
Elas se afirmam, únicas, por vezes não-relacionais( em “guetos“), devido a não perceberem o mesmo(o outro), a vida. Na vida, as vezes fica explícito, a territorialidade demarcada por parte de grupos, deixando a ocupação espacial quase como um campo minado e apropriado por tal etnia, grupos sociais e de maneira excludentes e por demais defensivas.

As multidões são quando estes “guetos” se notam. Instaura-se a democracia. Todas as vozes.

A partir da alegação de Protágoras: “ o homem é a medida de todas as coisas”, e da incorporação de que somos bilhões, e que destes bilhões, alguns são comuns por identificações que lhe são particulares, arquetípicas,( nacionalidade, sexualidade, gosto, etc...), segue-se que não é plausível encontrarmos critérios válidos para toda e qualquer gente, sendo este homem medida de todas as coisas, ainda mais específico e particular, enquanto múltiplo e variável.

A “pretensão” universalista de gerir uma ética normativa, ou de fundamentar uma objetividade cientificista e epistemológica predominante no conhecimento, esbarra na singularidade e na intersubjetividade humana, nos guetos, nas “individualidades”,nos sentimentos, frutos da multiplicidade ontológica do ser, e das diferentes interpretações de mundo construídas nas relações dos tantos sujeitos com a realidade constituída, e dada factualmente dentro da experiência de cada pessoa.

Está “reconsideração” filosófica, postula uma inerência relativa e pessoal,a uma subjetivação da experiência de cada sujeito, portador de um código autônomo e existencial único, e a uma hermenêutica própria e imprescindível, mais intrínseco ao humano, do que o padrão, o cânone, o clássico. É própria e também culturalmente herdada.

Resgatando a condição de “natureza” da humanidade, como quis Rousseau, chega-se a uma compaixão primitiva e com forte amplexo na sobrevivência e na semelhança(espécie) ,seja ela(a compaixão), “instintiva” ou de determinância empírica razoável *
(- sem que importe a discordância entre românticos, religiosos, biólogos ou fenomenólogos).

Disso,desdobra-se uma identificação “real“, de cunho imaginativo, do reconhecimento sensível de um compartilhamento dela mesma, a vida. As multidões se aproximam. Quase se olham no olho.

Dois sujeitos, únicos, semelhantes enquanto humanos, reconhecendo-se. Seja por “faro” ou por pensamento...
As Multidões se cruzam. Mesmos em outros. Os ouvidos se abrem, o “diálogo” se faz necessário, histórico-dialético ...

Rorty diz: “ Os pragmatistas querem colocar a esperança social no lugar que o conhecimento tem tradicionalmente ocupado”. ( pág. 88)

A convivência requerida pelos pragmatistas, abarca a alteridade, extensão de uma identidade equivalente, de outro sujeito,que mesmo diverso,um eu, imerso no mundo.
Ser-no-mundo.Com outrem. Dotado de sensibilidade e esperança messiânica de justiça.

Quando as multidões se vêem, os rostos e os olhos reivindicam a responsabilidade pelo outro, pela contingência dos acontecimentos e o curso histórico.

É inerente a construção de uma sociedade mais solidária, partimos de noções reparativas históricas e de origens sensíveis, não com cartilhas ou prescrições morais,comportamentais, anistóricas e incondicionais,mas sim, tornando clara, antes de tudo, o exercício de práticas que permitam uma convivência harmônica e equivalente entre os bilhões de indivíduos dessa aldeia global.

Esta solidariedade, mesmo de origens sensíveis, nascem, requeridas por um juízo do devir, de uma metalinguagem da história, uma auto-reparação, nascente no direito dos sujeitos afetados.

A postura pragmatista nasce em consonância com o desafio de tornar a filosofia cada vez mais próxima da empiria e do cotidiano, devendo se afastar do almejo de ser um conhecimento fora do domínio humano, e de ser um saber que constitua a verdade e a universalidade como princípio básico de sua gnose. É um entendimento sucinto de que a filosofia precisa deixar de ser “vertical”.
Menos axiomática.

Para Rorty, esta tão dita verdade, sempre filosoficamente “buscada”, deve ter um uso “acautelatório”, pois sua justificação pode ser facilmente refutada diante de outros contextos,fatos, ao longo do tempo. Pela vida. História ininterrupta.

Esta verdade tão defendida pelos cânones e pelos clássicos, provou-se diante desta História, por vezes falha e equivoca.
Não há verdade, que por ser justificável, fundamentada e argumentada fabulosamente, seja incondicional, validada pela eternidade. Em qualquer contexto.

No “seio” do pragmatismo, nasce uma noção que abarca a razão, porém sem pretensões universalistas ou fundamentalistas. A razoabilidade passa a ser um princípio mais flexível, elástico, humano. Diz respeito a possibilidade de ser razoável, assertivo, coerente, porém sem regras ou leis rígidas, fixas, atemporais.

Num exemplo claro de “inaugural” auto-crítica dos filósofos, Heidegger reconhece com perspicácia a problemática filosófica e sua demanda de clareza, quando afirma uma confusão intrínseca a esse domínio:

“Três perigos rondam o pensamento. O bom perigo, e por isso, salutar, é a proximidade do poeta que canta. O mau perigo, e por isso o mais agudo, é o próprio pensamento. Tem de pensar contra si mesmo, o que só consegue raramente. O pior perigo e por isso confuso, é a filosofia”

Nesta passagem,o pensador, indiretamente critica um procedimento filosófico cartesiano, no qual se adota uma divisão entre sujeito e objeto, com fins de definição ontológica e epistemológica (res-cogitan e res-extensa).

A crítica se volta para a noção de idéias inatas, de uma mente pura (determinantemente intelectual e de conceitos claros), que se relaciona com o mundo “externo” como se ele acontecesse de maneira alheia, “fora”, tendo a mente um poderio “controlador”. Organizativo. Moral. Classificatório.
Preciso.
A mente está tão imbricada no mundo e na experiência, que torna difícil separá-los. .
Esta separação radical entre sujeito e objeto, o “afastamento” do mundo propriamente dito , além da pretensão universalista, proporcionaram morais torpes, condutas incoerentes, e por fim, desembocaram em equívocos históricos de todas as naturezas ( vide o escravagismo, a inquisição). As multidões se “chocaram”. Tudo em nome, por vezes, de fundamentalismos dogmáticos.

O olhar para o outro deve ser de equivalência, semelhança e “igualdade” de direitos. Sujeito x Sujeito. Sujeitos dotados de sua intersubjetividade e contingencial relação com o mundo. Com outras subjetividades.

Como diria uma música, que tem a voz de Maria Bethânia:

“ Não esquecer
ninguém é o centro do universo
assim é maior, o prazer,
você verá que é mesmo assim,
a história não tem fim,
continua sempre que você,
responde sim,
a sua imaginação” ( Brincar de Viver, Guilherme Arantes)

Nos tempos atuais, a democracia dá autonomia e reergue a estima dos sujeitos singulares, festejando e gozando do prazer e privilégio de afirmar suas multidões, suas vastas interpretações e identidades, suas abissais profundidades sensíveis.Sua imaginação criativa e brilhante.
De diversas origens, histórias,culturas. Todos compondo o mesmo, o mundo.O espaço. A vida.

Duas vertentes se revelam altamente eficazes na construção desta sociedade solidária requerida, a partir do vislumbre histórico e de caráter reparador, dos acontecimentos da civilização : primeiro a arte, através da estética, com seus viés dionisíaco e com alto poder alinhador entre sensibilidade e expressão,
e segundo, a democracia, através da ética, e sua possibilidade de inclusão e reparação social.

A estética, por vezes relegada, nos traz com importante colaboração o aprimoramento do sensível, a necessidade da empiria, dos sentidos, do mundo da vida, e com isso,a empatia, o altruísmo e a solidariedade, a partir do contato com a poesia, com o sonho, com a esperança do porvir. Um porvir profético. Uma consonância entre sensibilidade e expressão. Puro Afeto.

Resgata, através de Nietzsche, o poder de Dionísio, a vontade de potência,o desejo, a imaginação,a pulsão, a sensualidade, a brincadeira, o jogo, a criatividade. O prazer em estar, ser.
Realizar a poesia que ronda, vida. A performatividade xamânica. Numa cosmogonia total.

Esta realização nos dá tamanha satisfação, e nos leva com fruição a alteridade, ao outro, ao mútuo, a partir de nós, únicos, mesmos. Todos. Afeto de multidões.
Frutos de sentimentos,estes,“fios” condutores de uma identidade humana, formadora, moral, como “previu” Hume em suas incursões textuais e filosóficas.

O contato com a arte, vazão do sensível, por exemplo,é dinamizadora de processos catártico-dialéticos e uma ferramenta revolucionária.

Subjetivamente vivenciada, porém de forte impacto axiológico, objetivadas a posteriori, inclinam o sujeito a mudança pragmática de comportamento ou no mínimo a uma reflexão direcionada para auto-crítica. Contextualizada. Social.
A contemplação tem seu espaço preservado, porém redimensionado. Se pode aglutinar outros subterfúgios, nesse ínterim “pleno” da arte em movimento. (revolução, superação, ...)

O exercício artístico pode promover uma consciência engajada e preocupada com o seu entorno. Com outros sujeitos. A arte, exercitada pelos sujeitos na história, referem-se a exemplos de seu caráter estético e político, social,promovendo antinomias reveladoras e não postergadoras. Como um grito que se impõe pelo “desespero” ou por sua força projetiva.

Salve Augusto Boal, Nelson Rodrigues, Rogério Duprat, a nossa baianíssima Tropicália e seu Tropicalismo antropofágico-musical. A guitarra elétrica e toda transgressão.

.O Teatro Oficina, comandado pelo “lendário” Zé Celso Martinez, atualmente em turnê( Dionisíacas em Viagem), passando por Salvador, com sua proposta de Teatro de Extádio( arenas e arquibancadas)traz a seguinte passagem em seu material de divulgação:

“ Grandioso Demais, coletivo demais. Próximo das origens verídicas do teatro, Festa Popular e grande catarse [...] Estádios de nossa época. Onde há de se tornar realidade o teatro de amanhã. Como foi o teatro na Grécia. O Teatro Para a Vontade do Povo e a Emoção do povo”.

Esta passagem, “proferida” por Oswald de Andrade, revela a verdadeira “missão” do teatro e da arte: a comoção das massas, uma catarse coletiva e “visionária”, uma honrosa menção a diversidade do seu povo e as vontades e emoções indistintas. Um comunismo orgástico. Orgiástico. Em todos os termos. Sexuais e não sexuais. ( A companhia Uzyna Uzona ( Teatro Oficina) é muito conhecida como a companhia que “promove” o nu de cunho sexual, mas seus trabalhos, como repertório, compõe temas para além deste.)


Durante duas peças desta turnê, intituladas Tâniko - Rito do Mar e Cacilda- Estrela a Vagar, as entrelinhas saltam. Em dois momentos, atores desfilam com bandeiras, onde ficam grafadas, o símbolo do comunismo.

A arte e a sensibilidade são grandes aliadas em empreitadas históricas que reivindicam um olhar crítico e reparador. Um olhar além dos olhares convencionados. Um olhar contextual, comunal, cultural, antropológico.

Desde que Levi Strauss “inaugura” a antropologia, pautado em uma reformulação do conceito de Cultura, não como uma bagagem intelectual,e sim como um “arcabouço” de práticas sociais referentes a comunidades determinadas, referenda e legitima uma ascendência importante ao particular, tornando o conhecimento como um todo voltado para a perspectiva do contexto, da ocasião, da situação, da “leitura”, conferindo respeito e autonomia para saberes que fogem a risca do cientificismo e universalismo clássico. Vide nossa cultura popular.

O multiculturalismo, oriundo desta institucionalização da Cultura enquanto prática social , permite a legitimação de normas, costumes, regras, princípios, que não são universais, mas dizem respeito as comunidades e seus métodos e linguagens , vida e “recorte” próprios.
O maior benefício para história e para a sociedade de nosso tempo, é a inclusão destes agentes sociais “marginais“,referendados na política pública de seu país, verdadeiramente democrática e reparadora.

A democracia quer escutar as vozes. Ouvir a todos. Mesmo sendo caótico seu território e tal pretensão. Por estar atenta as entrelinhas, e a seu faro curioso, ela se ajeita nesta jornada, nesta política abundante. Desses sujeitos bilhões. Ela é a política das multidões.

A atual política cultural brasileira por exemplo, na perspectiva do Ministério da Cultura, e dentro do Programa Cultura Viva, oriundo da experiência do ex-Secretário de Cidadania e Cultura, Célio Turino, tem por um de seus princípios, o fomento a Cultura Popular e principalmente as expressões que nascem no berço de populações tradicionais (negros, índios, ciganos, etc) e de forte poder simbólico, denominando a diversidade como origem e os Pontos de Cultura, como espaço privilegiado. afirmando a multidão.

Para se ter noção, na Bahia, tem-se espaços(Pontos de Cultura), como o Teatro Vila Velha ( grande equipamento cultural), e a ECAIG ( Escola Capoeira da Angola Irmãos Gêmeos de Mestre Curió).

Por uma sociedade de multidão, quer dizer para a nossa, sociedade do nosso tempo.
Voltada para o exercício da sensibilidade, através da arte, de uma imaginação catártica, realizadora e revolucionária, e da expressão de cada eu autêntico, fluído, solidário, e aberto para a diversidade, para o olhar de reconhecimento da alteridade. Para Cultura, como um ideário coletivo, comum, identitário, característico, de parte das multidões.

A intersubjetividade humana em seus meandros , deve ser assimilada como originária desta revolução iniciada em cada sujeito,que encontra respaldo na democracia, incluindo as vozes “marginais”, que repara “chagas” históricas, que abarca singularidades, e o máximo de agentes sociais humanos.

Bibliografia:
Souza, José Crisóstomo de. Filosofia, Racionalidade e Democracia. Os debates Rorty e Habermas, Editora UNESP.

Leão, Emmanuel Carneiro Leão, Heidegger e a Modernidade- A correlação Sujeito e Objeto. 1977

Emmanuel Levinas- Texto- Ética e Alteridade

Material de Divulgação da Turnê Dionisíacas- Teatro Oficina- Uzyna Uzona

Nietzsche, Os Pensadores. Vida e Obra, 3 edição, 1983

Hume, David. Os Pensadores. Vida e Obra. 2 edição, 1980

Descartes, René. Discurso do Método. 2 edição. Ed Martin Claret

Rousseau, Jean-Jaques,Os Pensadores. Vida e Obra. 2 edição. 1978

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Vídeo

O Híbrido e o Predominante

Grande parte da experimentação e investigação artística, em termos significativos, tem acontecido no interior de um estilo híbrido e conectado com a integralidade das linguagens. Em toda a expressão que se desdobre, há traços curiosos de uma fusão elementar e complementar. Som, palavra,imagem, movimento, corpo, fundam-se numa poética agudamente interessada em descortinar fronteiras e revelaram-se mutuamente simbióticas, num pacto estético e catártico.


Na década de 60, com o afloramento da Performance, não se limitando a desenvolver um campo expressivo, esse movimento começa a influenciar sutilmente as linguagens tradicionais, imbuindo-as de uma poder ampliador e de notório interesse por áreas similares. Daí por diante, nasce perspectivas denomidadas: Dança-Teatro,Música Cênica,Artes Performáticas, etc ...


O olhar contemporâneo em âmbitos macro e micro, diz respeito a um diálogo sincero e aproximador com a diversidade. Em termos artísticos, importante observar que não há uma perda do caratér identitário e ontológico com relação a essas novas denominações ou escolas. Coerente observar, que o genuíno, desta nova forma, é que há uma predominância dentro dessas poéticas. O híbrido não está numa mistura em doses equivalentes. Mas numa direção que insere dentro de uma identidade autônoma, influências de outras.


As linguagens tradicionais absorvem para si, recursos das outras, de modo a enriquecer o caratér expressivo e alcançar uma complementaridade estética. Na Música por exemplo, nasce o cantor intérprete, em um cruzumento entre a poética do ator e do cantor.

Sempre há um ponto de partida, uma linguagem mãe. É nela, que uma vastidão de outras, penetram, trazendo sua marca, sua influência.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Próximos Textos:

O Híbrido e o Predominante - A linguagem da contemporaneidade.

Estética e Contigência - Experiência Artística.

Formação em Arte - Novas perspectivas.

sábado, 29 de maio de 2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Alteridade e Devaneio: Os Fundamentos e a empiria.

Os dois termos chave desse blog, são os sopros de vida da escrita e de todo o idéario que está colocado aqui. Algumas premissas que decorrem do entendimento destes conceitos, estabelecem também um tipo de ruptura com discursos viciosos e repetitivos, que co-habitam a história e o cerne de uma razão não ponderada e vertical.

Começemos pela Alteridade.

Esta noção, nascida no âmbito da filosofia, está contida em um tipo de reflexão acerca da construção da identidade e do referencial que envolve o mundo que nos cerca. No âmbito da não-empiria, a formulação filosófica e totalitária da identidade, contribuí pra uma noção parca e por vezes duvidosa da individualidade e da cultura humana.

Durante o último seminário do CUCA, um dos palestrantes( Júlio Veloso) falava em identidade nacional, afirmando que este termo está fora de moda. Sou obrigado a concordar com ele, e dizer mais do que isso. Além de fora de moda, é a noção também que está no interior de governos fascitas e repressores, pois estes “declaravam” a consolidação de uma identidade nacional como faíscas esperançosas de seus atos desvairados. Logo, é compreensível porque está ultrapassado, esse digamos, modo de falar e afirmar.

A alteridade, ao contrário da identidade, busca no outro, toda a referência do constructo ético. O outro seria uma extensão de nossa identidade, e em primeira instância, “matéria prima” na vivência de nosso ethos e nas dimensões axiológicas de nossa vida. Já disse Emmanuel Levinnas, que os olhos e o rosto ultrapassam a imagem plástica e requerem uma responsabilidade nas direções de nossos atos. Há um arrebatamento que nasce deste contato físico, um mesmo que não se finda em si, mas descobre em outrem mais do próprio.Uma sinergia entre os indíviduos, que é arbitrária e deve colocar em suspensão toda e qualquer perspectiva egoíca.

Nesta reformulação filósofica, está o”berço”de nossas políticas públicas atuais: o da diversidade e o respeito as diferenças. Em vez de afirmar de forma tão intensa uma identidade, devemos pensar como ela pode ser construída de modo a não afetar a democracia ou a liberdade de expressão dos seres humanos em geral. Afinal, hoje o múltiplo está em pauta.

Estabelecendo uma ponte, o devaneio inicia um processo de construção do real. Dá margens para o exercício do “esquecido”, ou o do cotidianamente incutido, porém não explícito. É nele, que há possibilidade de exercitar linhas de fuga, ou de instituir formas alternativas de conduta, percebendo como a mudança é saudável e por vezes extremamente coerente.

Estas condutas ou novas possibilidades de apreensão e de ação, jorram de uma face da palavra. A palavra, refinada linguagem, que do seu fruto, também colhe poesia. Esta poesia é a ordem para a emancipação humana.

Com isso, é necessário resgatar que em toda razão, há impulso imaginativo, e que em toda palavra, há resquícios poéticos. A poesia dá acesso as imagens, e nestas imagens começa o processo de vivência do “sonhador”.

O devaneio está intimamente conectado com o imaginário. E aí que ele se distingue da mera fantasia. Na imaginação há uma clareza da consciência, há uma força direta, que se move pelo encanto e pelo “interesse” das inclinações, e assim consequentemente, para o ato propriamente dito. Prova então, de que o devaneio não é uma atividade meramente mental, mas tem uma contigência própria, que é física.

As imagens produzidas pelo devaneio irradiam inspiração e promovem uma verdadeira atividade revolucionária. Estão nestas imagens, o caminho para o livre-arbítrio e para o despertar de nossa admiração, que então aprofundam a sensibilidade do “sonhador” e o faz experimentar uma paz aclaradora.
Esta paz contém a pulsão dos anseios de novidade. De reparar "erros" históricos.

Todo ser que devaneia, deseja do fundo de si, a felicidade de toda a humanidade.Neste ser , há toda a vida. Há a alteridade. Há toda a diversidade possível. Porque o devaneio não parte de uma perspectiva que é auto-referencial. Ele se coloca no mundo, e começa abrangendo o próprio sonhador, pare então partir para um amplexo perfeito. O Amplexo do Outro.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Artigo

O CUCA e a ESTÉTICA: Vanguarda e produção dos Pontos de Cultura ( Cultura e Arte Contemporânea)


Há um consenso que o “lugar” da vanguarda envolve o caráter experimental e investigativo da Arte. A sutileza dessa premissa, consiste em entender que uma das características fundamentais da Arte( As Artes “liberais” e do Gênio- Sete Artes),está no desenvolvimento de suas “práticas” e no “interior” de seu campo ontológico, sem necessariamente se configurar como uma atividade privilegiada de grupos específicos ( como a idéia de uma “alta” cultura vanguardista, como veremos a seguir).

A preocupação espontaneamente ativada dentro deste universo rico e extenso, é o da atenção distintiva entre papéis sutis desempenhados pela Arte. Primeiro um fazer que acontece na “esfera” estética, de minuciosos desejos intersubjetivos e instâncias auto-referenciais, geralmente conectadas com a formativade( catarse- estilo artístico-interdisciplinaridade- happening e performance, 1950 ), e segundo, outro fazer, funcional e conectado com a construção de uma consciência política e social substancializada pela Cultura. ( engajamento, propósito “institucional” revolucionário)
Trocando em miúdos, uma arte voltada para o hibridismo estilístico experimental e a investigação de conteúdos intersubjetivos(sensíveis) por determinâncias não conceituais, e uma arte sob perspectiva inclusiva ,transformadora e potencializada a partir de um discurso intelectual e pragmático.

Historicamente, estas duas “correntes” fundam de ciclos em ciclos, a relação estabelecida pelo tripé de “conhecimentos” humanos: Arte-Cultura e Política. Estes diálogos acontecem por vezes de maneira conflituosa, claramente guiados por ideologias e idiossincrasias de todos os envolvidos, e dentro de um pressuposto de discordância veemente deste considerado “antagonismo” artístico, não sendo reconhecido na Arte, tanto seus “papéis” poéticos, quanto os políticos,e sim, um em “detrimento” do outro.

Um exemplo histórico brasileiro ilustrado neste contexto, é o “embate” construído no seio da sociedade entre o Movimento Tropicalista e a Frente Nacionalista, em meados da década de 60. Prestes a sofrer o golpe militar, e ainda no estranhamento dos primeiros períodos da ditadura militar, não “unindo-se” para o enfrentamento deste inimigo comum, ambos os “grupos” radicalizam em suas oposições , por considerar uma falácia os argumentos e as adoções do outro.

A Tropicália próxima a uma “filosofia” “nietzcheana”, tachada de anárquica, alienada, mas em consonância com o projeto de revolução antropofágica, com uma arte híbrida e “global”, com o conteúdo crítico da realidade política, e com os comportamentos transgressores e altamente “afetivos”. E a Frente Nacional, detida em sua afirmação incansável de identidade nacional, de projeto de desenvolvimento da nação, da Cultura Popular e do engajamento artístico.


Este “antagonismo” artístico, próprio de toda e qualquer linguagem no “mundo”, precisa ser encarado atualmente, não como motivos para querelas, e sim como força para ação coletiva. Da consciência do processo e seus resultados. Da complementaridade de fazeres interpenetrados e conectados.

Os papéis políticos e poéticos da arte, ou da intersubjetividade e o engajamento social, são indissociáveis. A maior “mentira” produzida pela história da estética, é o da “arte meramente panfletária”, haja visto, que ela antes de propor seu “ideal” transformador, não revoluciona o próprio indivíduo que a clama. Uma ação artística que visa ser puramente política, se perde de todo o processo construído, sendo ineficaz e começando já onde pretende “chegar", sem a construção de um caminho começando na intersubjetividade, na pessoa,( Intersecção entre o “privado-íntimo”, a abertura ao experimental, a catarse intersubjetiva e o público, a inclusão,e o potencial transformador)

Os Pontos de Cultura tentam ser espaços que se afirmam pela diversidade, e de fato, como está acontecendo, será de total mérito, se existirem grupos como os Tambores de Aço da Taynã, que ultrapassam o “antagonismo” artístico, de modo a afirmá-lo já em sua síntese. A junção destes dois “universos” complementares da realidade. É pleno, observar a junção do exercício da vanguarda e da arte contemporânea( a investigação percussiva), e sua função social,( o trabalho de inclusão e formação cidadã dos moradores da Vila Castelo Branco).

O CUCA dentro da “questão” do “antagonismo” artístico, começa a inspirar-se neste mesmo exercício da complementaridade. De uma revolução iniciada por processos, de uma arte extensamente entendida em suas etapas e exercícios, e o respeito a uma autonomia pedida aos gritos, um caminho que se constitui inicialmente no interior de cada indivíduo e depois desemboca na intersubjetividade dos agentes e então numa consciência-”libertária” propositiva e política.

Parafraseando MESTRE TC, sua frase mais bem guardada na minha memória, durante a apresentação do TEIA foi: “ Porque a música que nos move, e ela que transforma tudo isso aqui, é a única coisa que a gente faz, e é o que a gente faz melhor”.

Thiago Pondé.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Experiência Estética!

Aqui vos fala um cantor, de nome Thiago Pondé, que espera contribuir com a vivência artística e criativa de quem vos lê.

Perceber a experiência estética como crucial e originária de revoluções comportamentais é o nosso eixo.

Para tal começemos percebendo:

Experiência Estética é:Experimentar dentro do processo criativo a intersubjetividade e a afetividade do mundo empírico, para daí então realizar o exercício artístico-catártico e a composição da obra, colocando-a em rede a partir de uma intenção político-propositiva e libertadora.