sábado, 29 de maio de 2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Alteridade e Devaneio: Os Fundamentos e a empiria.

Os dois termos chave desse blog, são os sopros de vida da escrita e de todo o idéario que está colocado aqui. Algumas premissas que decorrem do entendimento destes conceitos, estabelecem também um tipo de ruptura com discursos viciosos e repetitivos, que co-habitam a história e o cerne de uma razão não ponderada e vertical.

Começemos pela Alteridade.

Esta noção, nascida no âmbito da filosofia, está contida em um tipo de reflexão acerca da construção da identidade e do referencial que envolve o mundo que nos cerca. No âmbito da não-empiria, a formulação filosófica e totalitária da identidade, contribuí pra uma noção parca e por vezes duvidosa da individualidade e da cultura humana.

Durante o último seminário do CUCA, um dos palestrantes( Júlio Veloso) falava em identidade nacional, afirmando que este termo está fora de moda. Sou obrigado a concordar com ele, e dizer mais do que isso. Além de fora de moda, é a noção também que está no interior de governos fascitas e repressores, pois estes “declaravam” a consolidação de uma identidade nacional como faíscas esperançosas de seus atos desvairados. Logo, é compreensível porque está ultrapassado, esse digamos, modo de falar e afirmar.

A alteridade, ao contrário da identidade, busca no outro, toda a referência do constructo ético. O outro seria uma extensão de nossa identidade, e em primeira instância, “matéria prima” na vivência de nosso ethos e nas dimensões axiológicas de nossa vida. Já disse Emmanuel Levinnas, que os olhos e o rosto ultrapassam a imagem plástica e requerem uma responsabilidade nas direções de nossos atos. Há um arrebatamento que nasce deste contato físico, um mesmo que não se finda em si, mas descobre em outrem mais do próprio.Uma sinergia entre os indíviduos, que é arbitrária e deve colocar em suspensão toda e qualquer perspectiva egoíca.

Nesta reformulação filósofica, está o”berço”de nossas políticas públicas atuais: o da diversidade e o respeito as diferenças. Em vez de afirmar de forma tão intensa uma identidade, devemos pensar como ela pode ser construída de modo a não afetar a democracia ou a liberdade de expressão dos seres humanos em geral. Afinal, hoje o múltiplo está em pauta.

Estabelecendo uma ponte, o devaneio inicia um processo de construção do real. Dá margens para o exercício do “esquecido”, ou o do cotidianamente incutido, porém não explícito. É nele, que há possibilidade de exercitar linhas de fuga, ou de instituir formas alternativas de conduta, percebendo como a mudança é saudável e por vezes extremamente coerente.

Estas condutas ou novas possibilidades de apreensão e de ação, jorram de uma face da palavra. A palavra, refinada linguagem, que do seu fruto, também colhe poesia. Esta poesia é a ordem para a emancipação humana.

Com isso, é necessário resgatar que em toda razão, há impulso imaginativo, e que em toda palavra, há resquícios poéticos. A poesia dá acesso as imagens, e nestas imagens começa o processo de vivência do “sonhador”.

O devaneio está intimamente conectado com o imaginário. E aí que ele se distingue da mera fantasia. Na imaginação há uma clareza da consciência, há uma força direta, que se move pelo encanto e pelo “interesse” das inclinações, e assim consequentemente, para o ato propriamente dito. Prova então, de que o devaneio não é uma atividade meramente mental, mas tem uma contigência própria, que é física.

As imagens produzidas pelo devaneio irradiam inspiração e promovem uma verdadeira atividade revolucionária. Estão nestas imagens, o caminho para o livre-arbítrio e para o despertar de nossa admiração, que então aprofundam a sensibilidade do “sonhador” e o faz experimentar uma paz aclaradora.
Esta paz contém a pulsão dos anseios de novidade. De reparar "erros" históricos.

Todo ser que devaneia, deseja do fundo de si, a felicidade de toda a humanidade.Neste ser , há toda a vida. Há a alteridade. Há toda a diversidade possível. Porque o devaneio não parte de uma perspectiva que é auto-referencial. Ele se coloca no mundo, e começa abrangendo o próprio sonhador, pare então partir para um amplexo perfeito. O Amplexo do Outro.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Artigo

O CUCA e a ESTÉTICA: Vanguarda e produção dos Pontos de Cultura ( Cultura e Arte Contemporânea)


Há um consenso que o “lugar” da vanguarda envolve o caráter experimental e investigativo da Arte. A sutileza dessa premissa, consiste em entender que uma das características fundamentais da Arte( As Artes “liberais” e do Gênio- Sete Artes),está no desenvolvimento de suas “práticas” e no “interior” de seu campo ontológico, sem necessariamente se configurar como uma atividade privilegiada de grupos específicos ( como a idéia de uma “alta” cultura vanguardista, como veremos a seguir).

A preocupação espontaneamente ativada dentro deste universo rico e extenso, é o da atenção distintiva entre papéis sutis desempenhados pela Arte. Primeiro um fazer que acontece na “esfera” estética, de minuciosos desejos intersubjetivos e instâncias auto-referenciais, geralmente conectadas com a formativade( catarse- estilo artístico-interdisciplinaridade- happening e performance, 1950 ), e segundo, outro fazer, funcional e conectado com a construção de uma consciência política e social substancializada pela Cultura. ( engajamento, propósito “institucional” revolucionário)
Trocando em miúdos, uma arte voltada para o hibridismo estilístico experimental e a investigação de conteúdos intersubjetivos(sensíveis) por determinâncias não conceituais, e uma arte sob perspectiva inclusiva ,transformadora e potencializada a partir de um discurso intelectual e pragmático.

Historicamente, estas duas “correntes” fundam de ciclos em ciclos, a relação estabelecida pelo tripé de “conhecimentos” humanos: Arte-Cultura e Política. Estes diálogos acontecem por vezes de maneira conflituosa, claramente guiados por ideologias e idiossincrasias de todos os envolvidos, e dentro de um pressuposto de discordância veemente deste considerado “antagonismo” artístico, não sendo reconhecido na Arte, tanto seus “papéis” poéticos, quanto os políticos,e sim, um em “detrimento” do outro.

Um exemplo histórico brasileiro ilustrado neste contexto, é o “embate” construído no seio da sociedade entre o Movimento Tropicalista e a Frente Nacionalista, em meados da década de 60. Prestes a sofrer o golpe militar, e ainda no estranhamento dos primeiros períodos da ditadura militar, não “unindo-se” para o enfrentamento deste inimigo comum, ambos os “grupos” radicalizam em suas oposições , por considerar uma falácia os argumentos e as adoções do outro.

A Tropicália próxima a uma “filosofia” “nietzcheana”, tachada de anárquica, alienada, mas em consonância com o projeto de revolução antropofágica, com uma arte híbrida e “global”, com o conteúdo crítico da realidade política, e com os comportamentos transgressores e altamente “afetivos”. E a Frente Nacional, detida em sua afirmação incansável de identidade nacional, de projeto de desenvolvimento da nação, da Cultura Popular e do engajamento artístico.


Este “antagonismo” artístico, próprio de toda e qualquer linguagem no “mundo”, precisa ser encarado atualmente, não como motivos para querelas, e sim como força para ação coletiva. Da consciência do processo e seus resultados. Da complementaridade de fazeres interpenetrados e conectados.

Os papéis políticos e poéticos da arte, ou da intersubjetividade e o engajamento social, são indissociáveis. A maior “mentira” produzida pela história da estética, é o da “arte meramente panfletária”, haja visto, que ela antes de propor seu “ideal” transformador, não revoluciona o próprio indivíduo que a clama. Uma ação artística que visa ser puramente política, se perde de todo o processo construído, sendo ineficaz e começando já onde pretende “chegar", sem a construção de um caminho começando na intersubjetividade, na pessoa,( Intersecção entre o “privado-íntimo”, a abertura ao experimental, a catarse intersubjetiva e o público, a inclusão,e o potencial transformador)

Os Pontos de Cultura tentam ser espaços que se afirmam pela diversidade, e de fato, como está acontecendo, será de total mérito, se existirem grupos como os Tambores de Aço da Taynã, que ultrapassam o “antagonismo” artístico, de modo a afirmá-lo já em sua síntese. A junção destes dois “universos” complementares da realidade. É pleno, observar a junção do exercício da vanguarda e da arte contemporânea( a investigação percussiva), e sua função social,( o trabalho de inclusão e formação cidadã dos moradores da Vila Castelo Branco).

O CUCA dentro da “questão” do “antagonismo” artístico, começa a inspirar-se neste mesmo exercício da complementaridade. De uma revolução iniciada por processos, de uma arte extensamente entendida em suas etapas e exercícios, e o respeito a uma autonomia pedida aos gritos, um caminho que se constitui inicialmente no interior de cada indivíduo e depois desemboca na intersubjetividade dos agentes e então numa consciência-”libertária” propositiva e política.

Parafraseando MESTRE TC, sua frase mais bem guardada na minha memória, durante a apresentação do TEIA foi: “ Porque a música que nos move, e ela que transforma tudo isso aqui, é a única coisa que a gente faz, e é o que a gente faz melhor”.

Thiago Pondé.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Experiência Estética!

Aqui vos fala um cantor, de nome Thiago Pondé, que espera contribuir com a vivência artística e criativa de quem vos lê.

Perceber a experiência estética como crucial e originária de revoluções comportamentais é o nosso eixo.

Para tal começemos percebendo:

Experiência Estética é:Experimentar dentro do processo criativo a intersubjetividade e a afetividade do mundo empírico, para daí então realizar o exercício artístico-catártico e a composição da obra, colocando-a em rede a partir de uma intenção político-propositiva e libertadora.