quinta-feira, 27 de maio de 2010

Alteridade e Devaneio: Os Fundamentos e a empiria.

Os dois termos chave desse blog, são os sopros de vida da escrita e de todo o idéario que está colocado aqui. Algumas premissas que decorrem do entendimento destes conceitos, estabelecem também um tipo de ruptura com discursos viciosos e repetitivos, que co-habitam a história e o cerne de uma razão não ponderada e vertical.

Começemos pela Alteridade.

Esta noção, nascida no âmbito da filosofia, está contida em um tipo de reflexão acerca da construção da identidade e do referencial que envolve o mundo que nos cerca. No âmbito da não-empiria, a formulação filosófica e totalitária da identidade, contribuí pra uma noção parca e por vezes duvidosa da individualidade e da cultura humana.

Durante o último seminário do CUCA, um dos palestrantes( Júlio Veloso) falava em identidade nacional, afirmando que este termo está fora de moda. Sou obrigado a concordar com ele, e dizer mais do que isso. Além de fora de moda, é a noção também que está no interior de governos fascitas e repressores, pois estes “declaravam” a consolidação de uma identidade nacional como faíscas esperançosas de seus atos desvairados. Logo, é compreensível porque está ultrapassado, esse digamos, modo de falar e afirmar.

A alteridade, ao contrário da identidade, busca no outro, toda a referência do constructo ético. O outro seria uma extensão de nossa identidade, e em primeira instância, “matéria prima” na vivência de nosso ethos e nas dimensões axiológicas de nossa vida. Já disse Emmanuel Levinnas, que os olhos e o rosto ultrapassam a imagem plástica e requerem uma responsabilidade nas direções de nossos atos. Há um arrebatamento que nasce deste contato físico, um mesmo que não se finda em si, mas descobre em outrem mais do próprio.Uma sinergia entre os indíviduos, que é arbitrária e deve colocar em suspensão toda e qualquer perspectiva egoíca.

Nesta reformulação filósofica, está o”berço”de nossas políticas públicas atuais: o da diversidade e o respeito as diferenças. Em vez de afirmar de forma tão intensa uma identidade, devemos pensar como ela pode ser construída de modo a não afetar a democracia ou a liberdade de expressão dos seres humanos em geral. Afinal, hoje o múltiplo está em pauta.

Estabelecendo uma ponte, o devaneio inicia um processo de construção do real. Dá margens para o exercício do “esquecido”, ou o do cotidianamente incutido, porém não explícito. É nele, que há possibilidade de exercitar linhas de fuga, ou de instituir formas alternativas de conduta, percebendo como a mudança é saudável e por vezes extremamente coerente.

Estas condutas ou novas possibilidades de apreensão e de ação, jorram de uma face da palavra. A palavra, refinada linguagem, que do seu fruto, também colhe poesia. Esta poesia é a ordem para a emancipação humana.

Com isso, é necessário resgatar que em toda razão, há impulso imaginativo, e que em toda palavra, há resquícios poéticos. A poesia dá acesso as imagens, e nestas imagens começa o processo de vivência do “sonhador”.

O devaneio está intimamente conectado com o imaginário. E aí que ele se distingue da mera fantasia. Na imaginação há uma clareza da consciência, há uma força direta, que se move pelo encanto e pelo “interesse” das inclinações, e assim consequentemente, para o ato propriamente dito. Prova então, de que o devaneio não é uma atividade meramente mental, mas tem uma contigência própria, que é física.

As imagens produzidas pelo devaneio irradiam inspiração e promovem uma verdadeira atividade revolucionária. Estão nestas imagens, o caminho para o livre-arbítrio e para o despertar de nossa admiração, que então aprofundam a sensibilidade do “sonhador” e o faz experimentar uma paz aclaradora.
Esta paz contém a pulsão dos anseios de novidade. De reparar "erros" históricos.

Todo ser que devaneia, deseja do fundo de si, a felicidade de toda a humanidade.Neste ser , há toda a vida. Há a alteridade. Há toda a diversidade possível. Porque o devaneio não parte de uma perspectiva que é auto-referencial. Ele se coloca no mundo, e começa abrangendo o próprio sonhador, pare então partir para um amplexo perfeito. O Amplexo do Outro.

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