quinta-feira, 6 de maio de 2010

Artigo

O CUCA e a ESTÉTICA: Vanguarda e produção dos Pontos de Cultura ( Cultura e Arte Contemporânea)


Há um consenso que o “lugar” da vanguarda envolve o caráter experimental e investigativo da Arte. A sutileza dessa premissa, consiste em entender que uma das características fundamentais da Arte( As Artes “liberais” e do Gênio- Sete Artes),está no desenvolvimento de suas “práticas” e no “interior” de seu campo ontológico, sem necessariamente se configurar como uma atividade privilegiada de grupos específicos ( como a idéia de uma “alta” cultura vanguardista, como veremos a seguir).

A preocupação espontaneamente ativada dentro deste universo rico e extenso, é o da atenção distintiva entre papéis sutis desempenhados pela Arte. Primeiro um fazer que acontece na “esfera” estética, de minuciosos desejos intersubjetivos e instâncias auto-referenciais, geralmente conectadas com a formativade( catarse- estilo artístico-interdisciplinaridade- happening e performance, 1950 ), e segundo, outro fazer, funcional e conectado com a construção de uma consciência política e social substancializada pela Cultura. ( engajamento, propósito “institucional” revolucionário)
Trocando em miúdos, uma arte voltada para o hibridismo estilístico experimental e a investigação de conteúdos intersubjetivos(sensíveis) por determinâncias não conceituais, e uma arte sob perspectiva inclusiva ,transformadora e potencializada a partir de um discurso intelectual e pragmático.

Historicamente, estas duas “correntes” fundam de ciclos em ciclos, a relação estabelecida pelo tripé de “conhecimentos” humanos: Arte-Cultura e Política. Estes diálogos acontecem por vezes de maneira conflituosa, claramente guiados por ideologias e idiossincrasias de todos os envolvidos, e dentro de um pressuposto de discordância veemente deste considerado “antagonismo” artístico, não sendo reconhecido na Arte, tanto seus “papéis” poéticos, quanto os políticos,e sim, um em “detrimento” do outro.

Um exemplo histórico brasileiro ilustrado neste contexto, é o “embate” construído no seio da sociedade entre o Movimento Tropicalista e a Frente Nacionalista, em meados da década de 60. Prestes a sofrer o golpe militar, e ainda no estranhamento dos primeiros períodos da ditadura militar, não “unindo-se” para o enfrentamento deste inimigo comum, ambos os “grupos” radicalizam em suas oposições , por considerar uma falácia os argumentos e as adoções do outro.

A Tropicália próxima a uma “filosofia” “nietzcheana”, tachada de anárquica, alienada, mas em consonância com o projeto de revolução antropofágica, com uma arte híbrida e “global”, com o conteúdo crítico da realidade política, e com os comportamentos transgressores e altamente “afetivos”. E a Frente Nacional, detida em sua afirmação incansável de identidade nacional, de projeto de desenvolvimento da nação, da Cultura Popular e do engajamento artístico.


Este “antagonismo” artístico, próprio de toda e qualquer linguagem no “mundo”, precisa ser encarado atualmente, não como motivos para querelas, e sim como força para ação coletiva. Da consciência do processo e seus resultados. Da complementaridade de fazeres interpenetrados e conectados.

Os papéis políticos e poéticos da arte, ou da intersubjetividade e o engajamento social, são indissociáveis. A maior “mentira” produzida pela história da estética, é o da “arte meramente panfletária”, haja visto, que ela antes de propor seu “ideal” transformador, não revoluciona o próprio indivíduo que a clama. Uma ação artística que visa ser puramente política, se perde de todo o processo construído, sendo ineficaz e começando já onde pretende “chegar", sem a construção de um caminho começando na intersubjetividade, na pessoa,( Intersecção entre o “privado-íntimo”, a abertura ao experimental, a catarse intersubjetiva e o público, a inclusão,e o potencial transformador)

Os Pontos de Cultura tentam ser espaços que se afirmam pela diversidade, e de fato, como está acontecendo, será de total mérito, se existirem grupos como os Tambores de Aço da Taynã, que ultrapassam o “antagonismo” artístico, de modo a afirmá-lo já em sua síntese. A junção destes dois “universos” complementares da realidade. É pleno, observar a junção do exercício da vanguarda e da arte contemporânea( a investigação percussiva), e sua função social,( o trabalho de inclusão e formação cidadã dos moradores da Vila Castelo Branco).

O CUCA dentro da “questão” do “antagonismo” artístico, começa a inspirar-se neste mesmo exercício da complementaridade. De uma revolução iniciada por processos, de uma arte extensamente entendida em suas etapas e exercícios, e o respeito a uma autonomia pedida aos gritos, um caminho que se constitui inicialmente no interior de cada indivíduo e depois desemboca na intersubjetividade dos agentes e então numa consciência-”libertária” propositiva e política.

Parafraseando MESTRE TC, sua frase mais bem guardada na minha memória, durante a apresentação do TEIA foi: “ Porque a música que nos move, e ela que transforma tudo isso aqui, é a única coisa que a gente faz, e é o que a gente faz melhor”.

Thiago Pondé.

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